terça-feira, 25 de maio de 2010

Tato

*SONO, SONO, SONO, SONO...!*
Era só isso em que ela conseguia pensar. O tic-tac do relógio era o melhor estimulante á isso, juntamente com o barulho da chuva na rua e o silêncio daquela sala.
*Preciso acordar, PRE-CI-SO!*
Ela não se renderia fácil, talvez se rendesse, mas nunca fácil. Tentou alguma música na rádio, mas tudo estava mudo. Cada vez mais achando que o sonho e a realidade brincavam em uma ténue linha indiferenciável. Não sabia ao certo se sonhava, ou se aquilo era real.
Finalmente chegara o momento, ela estava livre, poderia sair dali, daquela sala infernalmente quieta e, quando irrompeu a porta; para o que pensou ser a liberdade, deparou-se com um silêncio mortalmente lascivo, dilacerante. As pessoas, todas elas, não falavam. Se quer podia-se distinguir o seu respirar do nada.
Ela andava, mais depressa, mais depressa, estava correndo agora, gritava á todo pulmão e ninguém. Nada se movia diferente, nenhuma pessoa dali á notava, não percebiam nem sua presença no pátio. Todos permaneciam naquele ritmo compassado, um passo, dois passos, três passos. Tic-tac; tic-tac.
Ela teve medo, pensou estar muda. Mas não, ouvia sua própria voz, seus gritos, clamores por alguém. Pensou em como não á viam ali, como não percebiam uns aos outros? eram tantos.
Eles apenas andavam, interruptamente, sempre.
Ela se tocou, sentiu sua pele fria, sentiu um vento estranhamente gélido para aquela época do ano e junto com ele um quê de putrefação no ar. Foi quando finalmente percebeu, que ali era um pouco escuro e vazio. Que as pessoas eram pálidas e cansadas.
Que usavam a mesma roupa, inclusive ela.
Percebeu que tudo ali era morto.
Então como se algo a empurrasse, foi em direção a um homem, com uma aparência diferente da dos demais. Alguém talvez, mais vivo.
E o tocou.
Um toque, direto, firme, preciso em seu peito. E com isso o predomínio do pavor. Ela estava horrorizada, enfim entendia, percebia o porquê de ao tocá-lo não ter sentido nada.
Isso! absolutamente nada.
Se quer cócegas nos dedos, nenhum arrepio, nenhuma sensação provocada pelo tato. Deu-se conta, então, do óbvio.
Do que estava na cara, todo o tempo.
Que eles não estavam ali, onde ela realmente não sabia.
Não havia ninguém ali, pelo menos não em corpo.
O que significava aquilo ou aquele lugar, ela realmente não sabia. E como uma maldição, uma sina, o seu destino; tudo em sua cabeça deu lugar ao vazio, ela lutou. Mas não o suficiente, nunca seria.
Po-se a caminhar compassadamente igual. Um passo, dois passos, três passos; tic-tac, tic-tac. Misturando-se a todos os outros, naquele mar de insignificante silêncio.


James Blunt - High ♫

2 comentários:

  1. Amei esse *-* Uma dica: ao postar, deixe mais espaço entre os parágrafos pra facilitar a leitura!

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  2. Tá bom, dica devidamente anotada. Farei isso nos próximos. Amei tu ter lido ele aqui *-----*

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